O QUARTO MÁGICO - Terceira parte




Nosso espelho, ele o trouxe de uma de suas muitas viagens. Disse-me que era uma antiguidade. Parecia ser, mas me falou isso com um riso tão maroto que jamais acreditei, apenas ri.

É um espelho de madeira talhada, de chão. Tem flores, anjinhos e aparador para colocar pequenos objetos. Como se não bastasse, impus-lhe mais alguns adereços: uma pequena boneca de pano, flores, meu colar de miçangas, fitas, um lenço lindo com o qual eu brincava de dança do ventre. Nós nos mirávamos longamente, nos achávamos lindos naquela moldura e o mantínhamos ao lado de nossa cama. Todo o quarto parecia muito maior por causa dele. Todas as cores ficavam mais fortes pelo espelho. Nós mesmos ficávamos estranhamente mais altos, imponentes, corados e poderosos e enquanto o olhávamos. “Dentro dele” não sentíamos fome.

Por quê teimávamos em sair dali para resolver coisas que não precisavam ser resolvidas? Para quê dar assistência a um mundo que não precisava de nós? Que seguiria seu curso incontinenti caso morrêssemos ou não? Que teimosia, que força boba, que estranha correnteza nos leva a agir como todo mundo mesmo quando isso vai contra nossos interesses mais viscerais? Que estranha maldição nos faz caminhar hipnotizados rumo ao nada?

Sim, olhei-me. Meus cabelos continuavam negros, cacheados e os cílios espessos. Isso não me trouxe assombro. Também sem assombro vi que não estava só. Ao contrário do que acontecia sempre, dessa feita era ele quem me esperava. Estava muito tranqüilo e tão lindo!

Ele foi tudo para mim. Eu fui tudo para ele. Mesmo assim, nada pudemos contra a correnteza. Mas agora tudo seria retomado. Tudo.

(Quarta parte...)

Nenhum comentário:

Previous Post Next Post Back to Top