Férias na Ausácia




Esses dias, sem mais nem menos dei um clique aleatório e conheci um blog de uma garota desconhecida. Ela mostrava, em dezenas de fotos, suas férias na Alsácia: "Vacances 2007 en Alsace."

Moça branca de rosto bonito, um pouquinho acima do peso e com espinhas. Quando comecei a ver as fotos, estranhamente, fui tomada de uma dorzinha que depois identifiquei como sendo melancolia. Sabe quando a gente começa a "lembrar e sentir saudade de coisas que não aconteceram"?

Estava friozinho na Ausácia e a moça parecia estar só. Não dolorosamente sozinha, mas no contexto de uma solidão gostosa de quem viaja mas não pode levar ninguém junto. Ou talvez a solidão de quem viaja entre o fim de um namoro e o começo de outro. Seu rosto tinha a expressão discretamente alegre de quem está feliz mas não tem com quem gritar "uau!" Ruas cinzentas.

Tudo parecia arrumado, silencioso e cinzento nas fotos. Ônibus, casacos, prédios antigos, idosos, frio. Fazia frio nas ruas limpas, muito limpas e tão distantes daqui. Senti vontade de sentir frio. Senti vontade de ir para a Ausácia sozinha e sentir frio, e ouvir meus próprios passos nas ruas, decididos e sem pressa. Tive vontade de tirar fotos de mim mesma no automático da máquina e sentar na praça, pegar chuva fina, ficar debaixo da marquise com olhar distante, tomar chocolate quente ao lado de outro forasteiro. Senti vontade de sentir saudade e sentir distância, tudo isso no frio. Senti saudade de me sentir em outro contexto, solta, cara a cara com uma vida alternativa.

Melancolia, melancolia com a quelas fotos de igrejas graves, de transportes de primeiro mundo passando por prédios antigos. Saudade do que não vi em um lugar que não conheço. Fiquei com frio na alma, procurei um agasalho dentro de mim e não encontrei. Nem marquise, nem chocolate.

Quero ver a vidraça chorar no inverno e sentir o frio de final da tarde afugentando os transeuntes. Senti saudade, dor e saudade e frio e vontade de reencontrar a parte de mim que sai de férias de mochila e vai para a Ausácia.

Cristina Faraon

Era só o que faltava...


Eles também cresceram. Ouvi dizer que a tuma da Mônica agora está adolescente. Era só o que faltava...

Ora, ora, um dos encantos dos quadrinhos é justamente imaginar que os personagens jamais envelhecerão. Lemos a história e pegamos carona na fantasia de que somos como eles: estaremos imunes ao tempo, as amizades permanecerão para sempre apesar das brigas e no fim vai dar tudo certo. Nada mais reconfortante.


Hoje há os que anseiam doentiamente por novidades. Há também os apegados afetivamente a coisas antigas que nada são além de sonhos incompletos. Em cada lembraça é possível notar o tudo que não foi. A arte de lembrar vai muito além de lembrar o que aconteceu. Sim, vai muito além. Envolte também ter saudade do que não vingou, do que morreu no nascedouro. Envolve voltar no tempo infinitas vezes para retocar, reformar, completar, ressuscitar e remoer quantas vezes forem necessárias.

Acho que o amadurecimento da turma da Mônica está mais para melancólico do que para qualquer outra coisa. É mais uma despedida em minha vida. Não sei se a idéia fará sucesso.

Quem escreve histórias tem que levar em consideração que nem sempre as notividades são uma necessidade. Vivemos em um mundo ávido por novidades. Só que mão é isso o o que nosso coraçao mais quer. Queremos o conforto do velhos sonhos, aperfeiçoados a cada noite, totalmente adaptado para nós. Queremos o conforto do sofá antigo, o conforto de saber como será a reação de tal personagem. Essas histórias na verdade são só parábolas da nossa própria vida. É lamentável imaginar que nossos personagens preferidos foram inseridos em nosso mundo de carne e osso, que envelhece, envilece, sofre e morre.

A turma da Mônica em momento algum manifestou a intenção de amadurecer. Eles estavam felizes, presos na capsula do tempo. Por que mexer nisso? Por que não termos personagens eternos, sempre jovens e que nos mostrem que são dignos da nossa admiração, que a vida nao acabou e que no fim, tudo dará certo?
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