Os segredos da boa festa - Danuza Leão


Qual é a receita para uma festa animada? Um espaço razoável, para que as pessoas possam se sentar às vezes, e bebida, quanto mais farta melhor, para desinibir os inibidos.

A comida é cada vez menos importante, e o mais cômodo é mesmo uma mesa com pãezinhos, frios, queijos, que seja reposta a noite inteira para que cada um se sirva na hora que quiser. Afinal, quem vai a festas para comer?

O gelo é mais importante que tudo. Seja qual for o seu orçamento, reserve 50% só para esse item. Compre centenas de sacos, empilhe no quarto da empregada, encha a banheira ou a piscina para que não ocorra em nenhum momento aquela cena deprimente de um copo de uísque com uma pedra boiando, solitária. Se isso porventura acontecer, é o fim da festa – e um triste fim.

Capítulo música: se for animada demais, do tipo que obriga as pessoas a dançar, é péssimo para quem quer conversar. Se for aquele fundo musical de elevador e alguém se exceder na bebida – e tomara que sim, pois festa muito bem-comportada é o pior que pode haver –, como extravasar toda aquela adrenalina a não ser dançando? Esse é um dilema que só pode ser resolvido se a casa tiver vários ambientes (essa palavra, inventada pelos corretores de imóveis, é sensacional). Mas isso não é problema: por acaso alguém que more numa casa com um só ambiente vai pensar em dar uma festa lá?

Agora, a lista de convidados – e é aí que começa a grande encrenca.

Se você está numa fase de casada e feliz, é claro que não vai convidar aquelas primas e amigas jovens e lindas nem dois solteiros de sucesso para perturbar a paz familiar – e, se convidar, estará procurando sarna para se coçar. Elas, com saia de 10 centímetros de comprimento, sem meias, o decote no umbigo e aquele ar de quem não leva filho ao dentista, não vai à feira e nunca ouviu falar do preço da picanha, estão ali só para inspirar a cobiça nos homens presentes, isto é, no seu marido e no marido de suas amigas. Não, isso só se faz com o marido das inimigas. E os dois solteiros e disponíveis, não precisa nem falar do bom humor que trariam aos maridos. Mas uma festa só de casais felizes, qual é a graça? Casais felizes devem ficar em casa, de mãos dadas, vendo um filme na televisão, ou ir a jantares – não a festas – e pronto.

Mas, se a festa é sua e você é solteira, o clima pode ser bem animado. Dá para convidar gente casada, mas pouca, e só se forem casais bem modernos, deu para entender? Mulheres bonitas aos montes, contanto que nenhuma seja mais sedutora do que você, claro. E, como a festa é sua, convide dois homens para cada mulher. Se sua agenda de telefones estiver meio pobre, peça para cada amiga trazer um amigo (ou dois); eles não vão gostar, mas é exatamente o que fazem quando a festa é deles.

É fundamental que algumas pessoas importantes compareçam, que sejam políticos, empresários ou apenas homens ricos. Em volta deles sempre se forma um grupinho e, se disserem uma frase bem banal do tipo ri melhor quem ri por último”, passam por intelectuais e profundos conhecedores da vida. Suas piadas provocam gargalhadas e qualquer comentário sobre as taxas de juros pode ser considerado como uma informação privilegiada. E fique você sabendo: são eles, mais do que homens e mulheres deslumbrantes, que fazem o sucesso de qualquer festa.






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STJ: Interceptação telefônica por dois anos é devassa à privacidade

(Recebi por e-mail)

16/09/2008
Por: Marcelo Pimentel Bertasso

Segundo a Wikipedia, "paráfrase consiste em, reescrever com suas palavras as idéias centrais de um texto. Consiste em um excelente exercício de redação, uma vez que desenvolve o poder de síntese, clareza e precisão vocabulário".

Em minhas aulas de português instrumental no curso de Direito da UFMS, gastei muito tempo fazendo paráfrases. Era uma verdadeira obsessão do professor.

Como estou nostálgico hoje, resolvi fazer um exercício similar com a notícia que intitula este post, que se encontra no site do STJ. Dividirei a notícia em várias partes. O original ficará em recuo e a paráfrase logo abaixo. Lá vai:

A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou quase dois anos
de interceptações telefônicas no curso de investigações feitas pela Polícia Federal contra o Grupo Sundown, do Paraná. A decisão é inédita no STJ. Até então, o Tribunal tinha apenas precedentes segundo os quais é possível prorrogar a interceptação tantas vezes quantas forem necessárias, desde que fundamentadas.

Paráfrase

O STJ jogou fora dois anos de trabalhos de várias equipes da Polícia Federal contra abastado grupo paranense. Até então o STJ não tinha feito isso, porque entendia, como todo ser racional, que a investigação a crimes complexos é demorada mesmo, o que justifica um lapso temporal maior de monitoramento. No entanto, como está na moda achincalhar os grampos, a Corte quis tirar uma casquinha e aparecer no Jornal Nacional.

Com prazo fixado em lei de 15 dias, as escutas do caso em discussão foram prorrogadas sem justificativa razoável por mais de dois anos, sendo, portanto, ilegais. A decisão foi unânime. A Turma acompanhou o entendimento do relator, ministro Nilson Naves.

A decisão determina ainda o retorno do processo à primeira instância da Justiça Federal para que sejam excluídas da denúncia do Ministério Público quaisquer referências a provas resultantes das escutas consideradas ilegais. O processo já tem sentença condenatória, que deve ser reavaliada pelo juízo de primeiro grau de acordo com as provas que restarem após a revisão da denúncia.

Paráfrase

No caso julgado, as escutas foram prorrogadas por mais de quinze dias sem fundamentação adequada. Fundamentação adequada seria mencionar que as
prorrogações sucessivas seriam necessárias para evitar que um meteoro colidisse com a Terra ou que marcianos nos invadissem. Simplesmente alegar que a escuta era necessária para esclarecer um crime não bastava.

Os ministros, contudo, não quiseram assumir o ônus de absolver desde logo os réus e assim deixar claro que estão dando mais um passo na construção do Estado de Impunidade, e então jogaram a batata quente para o juiz de primeiro grau. Agora, ele, que havia condenado os réus com base nas escutas, vai ter que "reavaliar" sua decisão, ou seja, falar o contrário do que havia dito e concluir que não há provas e absolver os réus. Ah sim, ele pode usar as provas que restaram. Mas provavelmente elas serão
ilícitas por derivação (algo a ver com uma tal de árvore envenenada).

Para o relator, se há normas de opostas inspirações ideológicas, tal qual a Constituição e a lei que autoriza a escuta telefônica, a solução deve ser a favor da liberdade. "Inviolável é o direito à vida, à liberdade, à intimidade, à vida privada."

Os ministros entenderam que estender indefinidamente as prorrogações, quanto mais sem fundamentação, não é razoável, já que a Lei n. 9.296/1996 autoriza apenas uma renovação do prazo de 15 dias por igual período, sendo de 30 dias o prazo máximo para escuta.

Paráfrase

O relator entendeu que os réus tinham todo o direito de cometer crimes e mencionar isso por telefone, afinal, a privacidade serve pra que né? Em que Estado vivemos, em que não se pode sequer cometer um crimezinho e contar vantagem para um amigo por telefone? Nesses casos, o réu somente pode ser punido se sair em praça pública anunciando o crime. Se, contudo, for mais discreto e limitar-se a falar ao telefone, tadinho, não pode ser punido. Viva a liberdade!!!!

Os ministros entenderam que não é razoável punir alguém dessa forma CRUEL e invasiva.

Desabafo

Ao se manifestarem a respeito do pedido de habeas-corpus, os ministros engrossaram as críticas quanto ao uso exagerado de escutas telefônicas nas investigações policiais. O ministro Paulo Gallotti advertiu que, apesar do desejo comum de ver o combate à criminalidade ganhar força e autoridade, isso deve ser feito pelos meios legais. "Não podemos compactuar com a quebra de um valor constitucional. Dois anos é devassar a vida desta pessoa de uma maneira indescritível. Esta pessoa passa a ser um nada",
criticou.

A ministra Maria Thereza de Assis Moura concordou com a fixação de um limite claro à interceptação. Para ela, disso depende a segurança no Estado democrático de direito. Já a desembargadora convocada Jane Silva afirmou não ser possível permitir que as interceptações fujam aos limites da razoabilidade. "uma devassa proposital à privacidade de alguém", lamentou.

O ministro Nilson Naves, que preside a Sexta Turma, destacou que o tratamento dado é igual, tanto a quem tem quanto a quem não tem. "Haveremos de pagar um preço para que possamos viver em condições democráticas. Que tudo se faça, mas de acordo com a lei", concluiu.

Paráfrase

Os ministros aproveitaram a ocasião pra falar a frase da moda: grampear os outros é feio. O Ministro Paulo Galloti disse que combater o crime é uma boa idéia, mas de acordo com a lei. E que não pode haver "quebra de valores constitucionais" e como a proibição ao cometimento de crimes não é valor constitucional, então a privacidade prevalece sobre ela. Depois, concluiu ele que ficar grampeando uma pessoa por dois anos é reduzi-la a
nada (mas nesses dois anos, com os delitos cometidos, a pessoa se tornou um "nada" bem abastado).

A ministra Maria Thereza disse que a segurança do Estado depende da fixação de limites às interceptações. Só não falou que segurança do Estado é diferente de segurança dos cidadãos. E a desembargadora Jane Silva disse que grampear alguém por tanto tempo é devassar injustificadamente a privacidade. Injustificadamente sim, porque o grampo baseou-se apenas no fato de que a pessoa cometia delitos. Ah, que motivozinho banal.

Ah, e não podia faltar a célebre frase de que isso aí é o preço por se viver em democracia. Quem a disse foi o presidente da Sexta Turma. Na verdade, não é o preço da democracia, mas um bônus. Só aqui no Brasil você pode cometer crimes, alardear por telefone, responder ao processo por longos anos e no final anular tudo. Preço? O único preço que você paga são os honorários do seu advogado.

Investigação

No caso em debate, os ministros avaliaram a nulidade da prova derivada de escutas telefônicas de 5 de julho de 2004 e 30 de junho de 2006. As escutas, feitas em linhas de empresas do Grupo Sundown, do Paraná, teriam embasado a condenação dos empresários Isidoro Rozenblum Trosman e Rolando Rozenblum Elpern. Eles foram acusados de ser os cabeças do grupo que realizaria operações fraudulentas de importação, com graves prejuízos à fiscalização tributária. Ambos estavam condenados em primeira instância, mas encontravam-se foragidos. A investigação ocorreu durante a Operação Banestado, que examinou o envio de recursos para o exterior por meio de
contas CC5.

Paráfrase

No caso em apreço, os Ministros simplesmente jogaram fora dois anos de investigações da PF. Ou melhor, eles "deram" aos réus dois anos de impunidade. Afinal, eles eram acusados apenas de realizar operações fraudulentas, o que gerou prejuízo ao Fisco. Ah, mas o fisco é abastado, os réus não, então pra que encher as cadeias desnecessariamente né? Afinal, o direito penal é fragmentário, de ultima ratio, só tutela bens jurídicos relevantes, não age quando outros ramos do direito sancionem a conduta com igual eficácia. Aliás, pra quê Direito Penal? Que trocinho mais incômodo, ficar punindo os outros, grampeando pessoas. Isso é coisa de gente recalcada e sem criatividade. Se acabássemos com o Direito Penal não teríamos mais criminosos (porque não existiria mais crime), não precisaríamos de polícia (algo que certamente herdamos da ditadura, os
Titãs tinham razão, polícia é só pra quem precisa, e quem precisa de polícia?),
esvaziariamos a cadeia e viveríamos felizes num autêntico Estado Democrático de Direito.

E assim caminhamos. De modismo em modismo, vamos tornando a impunidade um
direito fundamental. Só faltou condenar os policiais, que faziam seu trabalho, pela arapongagem. Mas esse dia está por vir, e ainda dizem que vivemos num Estado Policial.

Enquanto isso, surge a notícia de que a Polícia Federal abrirá concurso para "adivinho". Atribuições do cargo:

i) adivinhar quando um réu oferecerá perigo que justifique o uso de algemas (Súmula Vinculante nº 11);
ii) adivinhar em qual período de quinze dias ao longo das investigações o investigado mencionará, por telefone, que cometeu o delito. Sim, porque agora interceptação tem que ser certeira: se o réu não confessar o delito no período de quinze dias de escuta, já era. Terá a eternidade para poder falar livremente ao telefone e ficar impune.

Marcelo Pimentel Bertasso, é juiz de Direito no Estado do Paraná.





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Preâmbulo:
Por algum motivo sobre o qual ainda não refleti o suficiente, despertei com o espírito leve. Uma luz sobre mim brilhou e então achei-me em perfeitas condições de dar os seguintes conselhos aos meus leitores, os quais serão valiosos para que ingressarem, uma vez guiados pela Luz, no mundo fabuloso da literatura.

É possível que meus conselhos não passem de um breve palito de fósforo diante da longa estrada que cada um de vós tem pela frente... Ou quem sabe valha menos que um fósforo queimado. Vossa sabedoria certamente discernirá. E ao final das contas quem pode garantir que o quê serve para o quê em nossa curta passagem pela terra? Tudo não termina mesmo debaixo de sete palmos? Então vamos lá.

1) Leia com afinco todas as grandes obras que puder mesmo que no começo alguma coisa se lhe apresente meio estranha. Eu mesma, quando li Dom Casmurro ainda moleca, não conseguia entender o que poderia haver de bonito nos "olhos de ressaca" de Capitu. Olhos vermelhos, inchados, sonolentos... Para mim deveriam ser horríveis, mas gosto era gosto. Tem até quem goste de apanhar! Anos mais tarde saquei o lance. Mesmo assim acho que não perdi meu tempo. Pois é, persista. Você estará no ponto para passar para o segundo passo quando estiver achando que é moleza escrever daquele jeito e que as livrarias estão superlotadas de livros com a mesma qualidade.

2) Anote aí: é muito importante para a sua formação que você leia os maus escritores. Eles são de valor incalculável e jamais deveriam ser desprezados. Desconfio de um curso que se diga sério e não os recomende. Deveriam fazer parte do programa de qualquer Universidade minimamente respeitável.

Parece-me inadmissível que alunos sejam levados a acreditar na existência de um mundo ideal e, à semelhança dos romances, passem a imaginar que encontrarão com Graciliano Ramos no funk de sexta feira, trocarão confidências em um chat com Ernest Hemingwai. Ou talvez alguém como Machado de Assis escreverá a próxima novela das oito ou quem sabe todo dia nascerá na Maternidade do Povo uma nova penca de Guimarães Rosa. Não! É imprescindível que sofram depois do filé com uns "besta-seleres" na cabeça para aprenderem a separar o joio do trigo. Depois de degustarem a realidade, mãos à obra.

3) Ler Eça de Queiroz ou Fernando Pessoa certamente é empolgante mas tentar escrever em seguida pode ser profundamente desanimador. Claro que existem aqueles que não conseguem ver muita diferença entre um grande escritor e um escritor medíocre. Há ainda os que preferem os medíocres! São esses os mais animados em adotar esse novo "passa-tempo". Já outros sofrem pela dura comparação e só escrevem mesmo porque não conseguem deixar de fazê-lo. Não é uma opção, é mais ou menos como a história do rapazinho delicado que... deixa pra lá. Se você for uma dessas pessoas que mesmo se sentindo uma minhoca não conseguem parar com esse negócio, aqui vão umas dicas.


PARTE II

Degrau 1:

Escreva. Claro, esse tem que ser o primeiro passo assim como abrir a boca é o início de cantar.

Como disse um escritor amigo meu: jamais traga a lume um texto recém escrito. Deixe-o amadurecer na "gaveta" por semanas, meses se for preciso. Acrescento que o ideal é que quando tornar a ler você esteja tão distanciado dele no tempo que tenha a sensação de que aquelas palavras não são suas. Issa é a sacada.

Os novatos não passam nunca nesse primeiro passo. Tudo que escrevem querem logo jogar no ventilador, como se o mundo estivesse louquinho para descobrir o que se passa por suas mentes avoadas. Prepare-se para digerir uma dura realidade: ninguém, mas ninguém mesmo, quer saber o que você pensa. Isso dói. Então por que escrever? Pergunte ao cachaceiro por quê beber. A resposta será parecida. Mas vamos lá: a idéia é fazer o público tropeçar em suas palavras "sem querer querendo" e em seguida cativá-lo. Não entendeu?

É como fazemos com uma criança que não quer comer mas inadvertidamente abre a boca. O que você faz? Colher dentro! E para seu deleite o bebezinho acaba gostando e querendo mais. Essa é a situação ideal, claro. Ou é como o caso do sabonete que cai no chão e - deixe pra lá, acho que você já entendeu. O importante, no exemplo da comidinha da criança, é que você prepare muito bem a receita, da melhor forma que puder. Nada de improvisos, de coisas apressadas. Vírgulas, travessões, preferências por determinado sinônimo, tudo são temperos que cativarão aquele fofucho que é o seu leitor.

Degrau 2:

Bem, você conseguiu conter-se e agora está no segundo degrau. Passaram-se semanas, meses? Parabéns! Belo começo. Agora você relê o que escreveu e nada mudou em sua avaliação: continua achando muito bom? Hmmmm... Vai ver que você é bom mesmo (duvido). Devo alertá-lo de que sua reação frente ao texto engavetado é pouco comum.

Caro colega, o que mais acontece é que você, distanciado no tempo, tenha a impressão de que não escreveu aquela coisa. Vejamos: o que acontece quando a gente lê um texto que outra pessoa escreveu? Pense bem. Esforce-se. Faz de conta que é um colega seu que está disputando uma vaga para cronista em um conceituado jornal na cidade e o texto que agora tem nas mãos, na verdade é dele. Com que olhar o lerá? Isso! Olhar crítico, sagaz, quase cruel. Certo, estamos indo bem. ão tendo sido você que escreveu "aquilo" é claro que fica muito mais fácil descer o malho. Não fique triste consigo. Nós, os humanos, somos todos assim.

E agora? Seu olhar ficou mais crítico, mais afiado e os dedos coçam para fazer correções? aproveite!

a) Vamos lá: faça todas as correções que desejar. Demore-se, entre pela madrugada, ignore o horário das refeições.

b) O chato é quando olhamos tudo e temos a impressão de que a idéia em si é boa mas o texto foi mal escrito desde o nascedouro e parece-nos irrecuperável. Recomendação: não remende. Recomece do zero. Não desperdice uma boa idéia por de preguiça.

c) Mas algo pior pode acontecer: você entender que a idéia em si é paupérrima, que quando resolveu escrever aquilo só podia estar bêbado e que aquilo não merece um punhado de bytes. Só posso te dizer uma coisa: você tem razão. Delete.

Claro que para quem tem talento não existe ideia má. Pode-se escrever mil páginas sobre uma batata e ainda receber um Nobel de Literatura, mas você é você e cada um tem o seu limite. Não se exponha ao ridículo.

Degrau 3:

Gaveta de novo. Exatamente. O tempo de descanso agora poderá ser menor. Repita os passos "a", "b" e "c" até concluir que não há mais o que melhorar. Entenda: não espere concluir que seu texto é perfeito; poder ser ou não. Apenas pare de retocar quando observar que chegou ao seu limite e que dali não passará não importa quantos invernos o maldito fique na gaveta.


PARTE III

Degrau 4:

Pronto! Presenteie o mundo com as suas idéias brilhantes!

Importantíssimo: nunca, jamais, em hipótese alguma cometa a indelicadeza de perguntar às pessoas se elas gostaram do que você escreveu. No máximo, se for muito, mas muito amigo mesmo da vítima, pergunte se ela leu. E cale-se para sempre.

Se você é uma pessoa carente faça terapia enquanto escreve mas jamais mostre aos outros os seus textos se está sem condições emocionais de suportar críticas, risinhos ou indiferença. Nem todos tem estrutura tampouco para "o silêncio dos inocentes". A idéia deve ser a seguinte: escreva, ame-se, acalme-se e aguarde ser descoberto pelas futuras gerações. Se você tiver sorte eles serão mais receptivos que a atual. E uma lápide caprichada é melhor do que nada.

Cristina Faraon.

Começando a escrever - ÚLTIMA PARTE


Degrau 4:

Pronto! Presenteie o mundo com as suas idéias brilhantes!

Importantíssimo: nunca, jamais, em hipótese alguma cometa a indelicadeza de perguntar às pessoas se elas gostaram do que você escreveu. No máximo, se for muito, mas muito amigo mesmo da vítima, pergunte se ela leu. E cale-se para sempre.

Se você é uma pessoa carente faça terapia enquanto escreve mas jamais mostre aos outros os seus textos se está sem condições emocionais de suportar críticas, risinhos ou indiferença. Nem todos tem estrutura tampouco para "o silêncio dos inocentes". A idéia deve ser a seguinte: escreva, ame-se, acalme-se e aguarde ser descoberto pelas futuras gerações. Se você tiver sorte eles serão mais receptivos que a atual. E uma lápide caprichada é melhor do que nada.


(Quer o texto completo? Clique aqui)

Cristina Faraon.

Começando a escrever - PARTE II


Degrau 1 da parte dois: Escreva. Claro, esse tem que ser o primeiro passo assim como abrir a boca é o início de cantar.

Como disse um escritor amigo meu: jamais traga a lume um texto recém escrito. Deixe-o amadurecer na "gaveta" por semanas, meses se for preciso. Acrescento que o ideal é que quando tornar a ler você esteja tão distanciado dele no tempo que tenha a sensação de que aquelas palavras não são suas. Issa é a sacada.

Os novatos não passam nunca nesse primeiro passo. Tudo que escrevem querem logo jogar no ventilador, como se o mundo estivesse louquinho para descobrir o que se passa por suas mentes avoadas. Prepare-se para digerir uma dura realidade: ninguém, mas ninguém mesmo, quer saber o que você pensa. Isso dói. Então por que escrever? Pergunte ao cachaceiro por quê beber. A resposta será parecida. Mas vamos lá: a idéia é fazer o público tropeçar em suas palavras "sem querer querendo" e em seguida cativá-lo. Não entendeu?

É como fazemos com uma criança que não quer comer mas inadvertidamente abre a boca. O que você faz? Colher dentro! E para seu deleite o bebezinho acaba gostando e querendo mais. Essa é a situação ideal, claro. Ou é como o caso do sabonete que cai no chão e - deixe pra lá, acho que você já entendeu. O importante, no exemplo da comidinha da criança, é que você prepare muito bem a receita, da melhor forma que puder. Nada de improvisos, de coisas apressadas. Vírgulas, travessões, preferências por determinado sinônimo, tudo são temperos que cativarão aquele fofucho que é o seu leitor.

Degrau 2:

Bem, você conseguiu conter-se e agora está no segundo degrau. Passaram-se semanas, meses? Parabéns! Belo começo. Agora você relê o que escreveu e nada mudou em sua avaliação: continua achando muito bom? Hmmmm... Vai ver que você é bom mesmo (duvido). Devo alertá-lo de que sua reação frente ao texto engavetado é pouco comum.

Caro colega, o que mais acontece é que você, distanciado no tempo, tenha a impressão de que não escreveu aquela coisa. Vejamos: o que acontece quando a gente lê um texto que outra pessoa escreveu? Pense bem. Esforce-se. Faz de conta que é um colega seu que está disputando uma vaga para cronista em um conceituado jornal na cidade e o texto que agora tem nas mãos, na verdade é dele. Com que olhar o lerá? Isso! Olhar crítico, sagaz, quase cruel. Certo, estamos indo bem. ão tendo sido você que escreveu "aquilo" é claro que fica muito mais fácil descer o malho. Não fique triste consigo. Nós, os humanos, somos todos assim.

E agora? Seu olhar ficou mais crítico, mais afiado e os dedos coçam para fazer correções? aproveite!

a) Vamos lá: faça todas as correções que desejar. Demore-se, entre pela madrugada, ignore o horário das refeições.

b) O chato é quando olhamos tudo e temos a impressão de que a idéia em si é boa mas o texto foi mal escrito desde o nascedouro e parece-nos irrecuperável. Recomendação: não remende. Recomece do zero. Não desperdice uma boa idéia por de preguiça.

c) Mas algo pior pode acontecer: você entender que a idéia em si é paupérrima, que quando resolveu escrever aquilo só podia estar bêbado e que aquilo não merece um punhado de bytes. Só posso te dizer uma coisa: você tem razão. Delete.

Claro que para quem tem talento não existe ideia má. Pode-se escrever mil páginas sobre uma batata e ainda receber um Nobel de Literatura, mas você é você e cada um tem o seu limite. Não se exponha ao ridículo.

Degrau 3:

Gaveta de novo. Exatamente. O tempo de descanso agora poderá ser menor. Repita os passos "a", "b" e "c" até concluir que não há mais o que melhorar. Entenda: não espere concluir que seu texto é perfeito; poder ser ou não. Apenas pare de retocar quando observar que chegou ao seu limite e que dali não passará não importa quantos invernos o maldito fique na gaveta.

PARTE III

Começando a escrever - PARTE I



1) Leia com afinco todas as grandes obras que puder mesmo que no começo alguma coisa se lhe apresente meio estranha. Eu mesma, quando li Dom Casmurro ainda moleca, não conseguia entender o que poderia haver de bonito nos "olhos de ressaca" de Capitu. Olhos vermelhos, inchados, sonolentos... Para mim deveriam ser horríveis, mas gosto era gosto. Tem até quem goste de apanhar! Anos mais tarde saquei o lance. Mesmo assim acho que não perdi meu tempo. Pois é, persista. Você estará no ponto para passar para o segundo passo quando estiver achando que é moleza escrever daquele jeito e que as livrarias estão superlotadas de livros com a mesma qualidade.


2) Anote aí: é muito importante para a sua formação que você leia os maus escritores. Eles são de valor incalculável e jamais deveriam ser desprezados. Desconfio de um curso que se diga sério e não os recomende. Deveriam fazer parte do programa de qualquer Universidade minimamente respeitável.

Parece-me inadmissível que alunos sejam levados a acreditar na existência de um mundo ideal e, à semelhança dos romances, passem a imaginar que encontrarão com Graciliano Ramos no funk de sexta feira, trocarão confidências em um chat com Ernest Hemingwai. Ou talvez alguém como Machado de Assis escreverá a próxima novela das oito ou quem sabe todo dia nascerá na Maternidade do Povo uma nova penca de Guimarães Rosa. Não! É imprescindível que sofram depois do filé com uns "besta-seleres" na cabeça para aprenderem a separar o joio do trigo. Depois de degustarem a realidade, mãos à obra.

3) Ler Eça de Queiroz ou Fernando Pessoa certamente é empolgante mas tentar escrever em seguida pode ser profundamente desanimador. Claro que existem aqueles que não conseguem ver muita diferença entre um grande escritor e um escritor medíocre. Há ainda os que preferem os medíocres! São esses os mais animados em adotar esse novo "passa-tempo". Já outros sofrem pela dura comparação e só escrevem mesmo porque não conseguem deixar de fazê-lo. Não é uma opção, é mais ou menos como a história do rapazinho delicado que... deixa pra lá. Se você for uma dessas pessoas que mesmo se sentindo uma minhoca não conseguem parar com esse negócio, aqui vão umas dicas.



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