Começando a escrever - PARTE II


Degrau 1 da parte dois: Escreva. Claro, esse tem que ser o primeiro passo assim como abrir a boca é o início de cantar.

Como disse um escritor amigo meu: jamais traga a lume um texto recém escrito. Deixe-o amadurecer na "gaveta" por semanas, meses se for preciso. Acrescento que o ideal é que quando tornar a ler você esteja tão distanciado dele no tempo que tenha a sensação de que aquelas palavras não são suas. Issa é a sacada.

Os novatos não passam nunca nesse primeiro passo. Tudo que escrevem querem logo jogar no ventilador, como se o mundo estivesse louquinho para descobrir o que se passa por suas mentes avoadas. Prepare-se para digerir uma dura realidade: ninguém, mas ninguém mesmo, quer saber o que você pensa. Isso dói. Então por que escrever? Pergunte ao cachaceiro por quê beber. A resposta será parecida. Mas vamos lá: a idéia é fazer o público tropeçar em suas palavras "sem querer querendo" e em seguida cativá-lo. Não entendeu?

É como fazemos com uma criança que não quer comer mas inadvertidamente abre a boca. O que você faz? Colher dentro! E para seu deleite o bebezinho acaba gostando e querendo mais. Essa é a situação ideal, claro. Ou é como o caso do sabonete que cai no chão e - deixe pra lá, acho que você já entendeu. O importante, no exemplo da comidinha da criança, é que você prepare muito bem a receita, da melhor forma que puder. Nada de improvisos, de coisas apressadas. Vírgulas, travessões, preferências por determinado sinônimo, tudo são temperos que cativarão aquele fofucho que é o seu leitor.

Degrau 2:

Bem, você conseguiu conter-se e agora está no segundo degrau. Passaram-se semanas, meses? Parabéns! Belo começo. Agora você relê o que escreveu e nada mudou em sua avaliação: continua achando muito bom? Hmmmm... Vai ver que você é bom mesmo (duvido). Devo alertá-lo de que sua reação frente ao texto engavetado é pouco comum.

Caro colega, o que mais acontece é que você, distanciado no tempo, tenha a impressão de que não escreveu aquela coisa. Vejamos: o que acontece quando a gente lê um texto que outra pessoa escreveu? Pense bem. Esforce-se. Faz de conta que é um colega seu que está disputando uma vaga para cronista em um conceituado jornal na cidade e o texto que agora tem nas mãos, na verdade é dele. Com que olhar o lerá? Isso! Olhar crítico, sagaz, quase cruel. Certo, estamos indo bem. ão tendo sido você que escreveu "aquilo" é claro que fica muito mais fácil descer o malho. Não fique triste consigo. Nós, os humanos, somos todos assim.

E agora? Seu olhar ficou mais crítico, mais afiado e os dedos coçam para fazer correções? aproveite!

a) Vamos lá: faça todas as correções que desejar. Demore-se, entre pela madrugada, ignore o horário das refeições.

b) O chato é quando olhamos tudo e temos a impressão de que a idéia em si é boa mas o texto foi mal escrito desde o nascedouro e parece-nos irrecuperável. Recomendação: não remende. Recomece do zero. Não desperdice uma boa idéia por de preguiça.

c) Mas algo pior pode acontecer: você entender que a idéia em si é paupérrima, que quando resolveu escrever aquilo só podia estar bêbado e que aquilo não merece um punhado de bytes. Só posso te dizer uma coisa: você tem razão. Delete.

Claro que para quem tem talento não existe ideia má. Pode-se escrever mil páginas sobre uma batata e ainda receber um Nobel de Literatura, mas você é você e cada um tem o seu limite. Não se exponha ao ridículo.

Degrau 3:

Gaveta de novo. Exatamente. O tempo de descanso agora poderá ser menor. Repita os passos "a", "b" e "c" até concluir que não há mais o que melhorar. Entenda: não espere concluir que seu texto é perfeito; poder ser ou não. Apenas pare de retocar quando observar que chegou ao seu limite e que dali não passará não importa quantos invernos o maldito fique na gaveta.

PARTE III

Nenhum comentário:

Previous Post Next Post Back to Top