Dois filminhos legais do Calvin




Solar Antique - restaurante

Ontem estive almoçando no restaurante Solar Antique. Já estive na mansão de recepções - uma beleza - mas o restaurante me desapontou.

Pra começar, meu filho e eu perguntamos ao funcionário à porta como era o serviço. Fomos informados que era buffet. Ele acrescentou que pagava-se uma taxa única e o cliente se serviria à vontade, com sobremesa e cafezinho incluídos.

Dirigi-me ao toalete. Achei um absurdo não ter sido lavado; estava cheirando a urina. Dentro, próximo à privada, não havia onde pendurar a bolsa. Fora, para lavar as mãos, a saboneteira estava sem sabonete líquido. Tive que contentar-me em apenas molhar as mãos antes da refeição. Começamos mal...

O buffet, gostoso mas simplesinho, não empolgava. Tá bom. Só que no fim, desejando a sobremesa, tive uma decepção. A informação inicial era: taxa única, o cliente se serve a vontade, sobremesa e cafezinho incluídos. O que se entende? Que é tudo a vontade, pois trata-se de um buffet. Pois senti-me lograda quando descobri que teria que optar por apenas uma das três sobremesas oferecidas pela casa. Diga-se: sobremesinhas comuns, que a gente encontra em qualquer casa de maricota por aí (mousse de chocolate, pudim de leite e creme de bacuri) sem direito a repetição.

Escolhi o mousse. Recebi uma mísera tigelinha cujo conteúdo nunca foi mousse na vida. Era um creme gelado de chocolate. Gostoso, mas estava mais para sorvete caseiro. Repito: aquilo NÃO ERA um mousse nem aqui nem na conchinchina.

Detalhe: o "cafezinho" (café com leite) veio ao mesmo tempo que a sobremesa e não depois, como é de costume. Ou seja: foi saboreado morno.

Bem, pelo menos os garçons eram simpáticos e gentis.

Estou escrevendo isso porque descobri dia desses que, como blogueira, sou uma ilustre formadora de opinião.

Aê pessoal do Solar, acho que dá pra melhorar, não é?

Charge de Belém

Tô danto. Inteiramente grátis. É sério!

Lista atualizada em 10/01/09.

Se você tiver interesse em qualquer destes itens, entre em contato através do e-mail farcristin@yahoo.com.br. Claaaaaro que você vai ter que vir buscar. Se não morar na cidade, problema seu. Não pretendo ter despesas de entrega. E ande logo porque posso mudar de idéia. Sou muito temperamental e apegada às coisas materiais.

1- Dois broches para vocês customizar suas camisetas ou bolsas;
2- Um cinto feminino vermelho;
3- Um cinto feminino branco;
4- Uma esponja de banho novinha da silva (ganhei de brinde e nunca usei);
5- Uma pulseira artesanal de miçangas. Esticável.
6- Dados do amor. Você joga e vê as sugestões de safadezas para praticar. Use com moderação. Ou não.
7- Uma caixinha porta-maquiagem com espelho.
8- Lindíssimos canecos de vidro para chope;
9- Um pauzinho japonês para prender cabelo;
10- Lindo conjuntinho de papais noéis de plástico (vieram como brinde de panetone);
11- Um lindo porta treco com a tampa trabalhada.
12- Um copo plástico com motivos natalinos. Você não pode viver sem ele. Eu posso.
13 Um caneco de alumínio, térmico, para tomar chope;
14- Um batom da Natura (semi novo). Cor alaranjada.
15- DVD + CD do Gilberto Gil. Legais as músicas. Comprei nas Americanas. São originais.


























O drama de Lucrécia





O QUARTO MÁGICO - Última parte


Tão longe estive lembrando disso tudo! Mas fui trazida de volta por uma risada distante. Pensei ter ouvido um acorde, um compasso abafado. Agora o espelho me chamava. Entendi que nosso encontro não era exatamente no quarto.

Meu Anjo Moreno...

Deitei em nossa cama e fechei os olhos mas nada aconteceu. Continuei assim, com a certeza ansiosa de não estar mais sozinha. A música e aquelas risadas distantes silenciaram.

“Meu Anjo Moreno”...

Abri os olhos, abri os braços... Pude ouvir o tilintar dos seus cordões, o baque da sua jaqueta bordada sendo jogada displicentemente na poltrona. O violão escorregou no canto da parede e caiu. Meu olhar foi chamado para lá. Nesse virar de rosto olhei o espelho. Olhei-me e lá estávamos nós.

Lá estava ele, tão meu como sempre foi. Deitou-se sobre mim e beijou meu rosto. Não dei meus lábios porque não ousava fitar-lhe de frente. Tive medo de tirar os olhos do espelho e perde-lo de novo. Fiquei assim, olhando-o pelo cristal mas sentindo seu peso, seu cheiro e sem saber absolutamente o que fazer porque além de tudo eu era tão linda e jovem quanto ele naquele estranho lugar de nós dois. Chorei, e chorando eu ainda era linda porque tinha 24 anos e meus cabelos eram tão negros quanto os dele e os nossos olhos nunca foram tão plenos de amor.

Não, eu não iria virar o rosto por nada desse mundo até que os céus nos amalgamasse e Deus em sua infinita misericórdia nos tornasse siameses! Até que houvesse garantia lavrada em pedra de que aquele momento não seria jamais perdido!

Foi então que ele falou com voz de anjo, com voz de Apolo que bastava que nunca mais saíssemos de lá, que nunca mais fôssemos tolos o suficiente para pensarmos que o mundo precisaria de nós. Ficaríamos ali para sempre, embirrados de amor.

Se eu quisesse, disse, escreveria uma carta ao mundo, à família, a Deus, ao diabo, ao raio que o parta. Eles que entendessem como carta, como conto, ou que desentendessem completamente. Ou eu poderia não escrever coisa alguma, mas seu eu saísse dali seria pela última vez. Nossos caminhos não se cruzariam nunca, nunca, nunca mais, em nenhum dos mundos.

Quem quiser que tenha achado esse documento faça o que quiser com ele mas se sobrou alguma coisa do quarto ou do espelho, destruam completamente. Deixem-nos em paz.

FIM

Cristina Faraon

O QUARTO MÁGICO - Quarta parte


A primeira vez que estivemos juntos foi na praia, a noite. A necessidade vital que sinto, de estar só vez por outra, ele também a tinha. Dessa forma, a praia por onde eu vagava certa noite sozinha dava para os fundos do hotel onde ele estava hospedado. Era bem tarde. Foi depois de um dos seus shows, depois da festa, depois das mulheres, depois de tudo que nos encontramos ali, na areia fria coberta de lua. Ele passeava insone. Nossas almas se reconheceram e só.

Ele veio a mim como um passarinho não solicitado. Eu o tive sem gaiola e dele me perdi sem que o soltasse.

Nossa última vez não se anunciou por nenhum presságio, nenhuma frase enigmática, nada. Ele apenas morreu.

Aquele lugar, que era a maternidade onde nascemos, a igreja onde casamos, o altar onde imolávamos um ao outro dentro dos ritos da nossa flamejante religião, ficou em minha memória como uma tumba logo após a sua morte, por isso não retornei, esquecida da sua mágica. Foi meu grande erro.

Lá dentro, lua eterna. Eu deveria ter voltado. Era o nosso lugar, era o combinado. Não tive coragem.

Ali nos misturávamos: vestal, prior, prostituta cultual, deusa, sacerdote, mãe, sacerdotisa, colo, confessor... Ele deixava-se abandonar às minhas leis e eu às suas e nos alternávamos no poder em um exercício de democracia muito justo e condizente com os reclamos das nossas almas. No quarto mágico ele se despia de seus trajes reais e desdenhava de ser o que quer que fosse lá fora para tornar-se apenas meu menino grande e lindo, aprendiz, oferenda perfeita, filho apaixonado e febril.

Era muito mais que sexo. Era a liturgia do amor. Em nossa febre estávamos salvando o mundo, as focas, os pandas, os micos-leões-dourados, as baleias. Estávamos impedindo colisões de astros, contendo os céus e os mares para que não se precipitassem irados sobre um mundo em desamor. Meus seios em sua boca, incenso e orações, mantras... E seus olhos negros e incendiados em mim. Isso impedia que o universo se acabasse.

Ele chegava como quem não sabe o que fazer de si mesmo. Eu lhe dizia sem voz, com olhos e mãos, com a boca, com o abraço das coxas que agora ele podia voltar a ser menino pra descansar. Ele vinha das apresentações, das viagens e das luzes esgotado, mas deitava em meu colo, se alimentava de mim. Havia horas de silêncio antes da primeira palavra. Quando eu o devolvia ao mundo era já renovado e imponente, tendo subjugado uma a uma todas as suas adolescências. Ele era o meu universo moreno, flexada primeira no meu coração.

(Última parte...)

O QUARTO MÁGICO - Terceira parte




Nosso espelho, ele o trouxe de uma de suas muitas viagens. Disse-me que era uma antiguidade. Parecia ser, mas me falou isso com um riso tão maroto que jamais acreditei, apenas ri.

É um espelho de madeira talhada, de chão. Tem flores, anjinhos e aparador para colocar pequenos objetos. Como se não bastasse, impus-lhe mais alguns adereços: uma pequena boneca de pano, flores, meu colar de miçangas, fitas, um lenço lindo com o qual eu brincava de dança do ventre. Nós nos mirávamos longamente, nos achávamos lindos naquela moldura e o mantínhamos ao lado de nossa cama. Todo o quarto parecia muito maior por causa dele. Todas as cores ficavam mais fortes pelo espelho. Nós mesmos ficávamos estranhamente mais altos, imponentes, corados e poderosos e enquanto o olhávamos. “Dentro dele” não sentíamos fome.

Por quê teimávamos em sair dali para resolver coisas que não precisavam ser resolvidas? Para quê dar assistência a um mundo que não precisava de nós? Que seguiria seu curso incontinenti caso morrêssemos ou não? Que teimosia, que força boba, que estranha correnteza nos leva a agir como todo mundo mesmo quando isso vai contra nossos interesses mais viscerais? Que estranha maldição nos faz caminhar hipnotizados rumo ao nada?

Sim, olhei-me. Meus cabelos continuavam negros, cacheados e os cílios espessos. Isso não me trouxe assombro. Também sem assombro vi que não estava só. Ao contrário do que acontecia sempre, dessa feita era ele quem me esperava. Estava muito tranqüilo e tão lindo!

Ele foi tudo para mim. Eu fui tudo para ele. Mesmo assim, nada pudemos contra a correnteza. Mas agora tudo seria retomado. Tudo.

(Quarta parte...)

O QUARTO MÁGICO - Segunda parte


Se eu tivesse um GPS não encontraria com tanta exatidão aquele ponto minúsculo no mapa, agora atormentado entre conflitos políticos. Mas cheguei. Havia um magnetismo, algo que me chamava para lá e que anulara por completo a possibilidade de erro.

Encontrei nosso recinto milagrosamente conservado. Sabia que seria assim mas não deixa de ser incrível. Abri todos os invólucros do tempo e entrei.

Toquei com meus pés aquele chão tão nosso. Estava surpreendentemente limpo. Foi quando descobri – tão tarde, meu Deus! que a história poderia ter sido retomada muito antes se eu não tivesse acreditado tão tolamente na morte.

Encontrei tudo como se fora uma mesa de café da manhã parcialmente desfrutada, abandonada às pressas por uma emergência qualquer mas deixada ali, para ser retomada poucos instantes mais à frente.

O espelho continuava lá, impassível. Evitei-o a princípio.

Pensei que ao entrar sentiria uma emoção, um apertar de peito. Nada. Era como se tivesse sido ontem. Estranho, como se ainda ontem eu tivesse trazido flores, almofadas novas e meus seios duros.

Percebi tudo como se fosse tão simples! Ainda não ousava me olhar no espelho porque temia o contraste, mas uma coisa já havia percebido: não havia poeira, nem cansaço nem dor nas pernas: nenhuma evidência física do passar dos anos. O ontem era fresco como uma fruta recém colhida.

Conforme ia caminhando pelo aposento pouco a pouco as coisas se invertiam. O que era lembrança lúcida e verdade absoluta de meu passado recente, agora me parecia idéia sem cabimento. Tudo o que vivi naquele quarto com aquele homem, mais especificamente há mais de quarenta anos, isso sim era claro, límpido e fazia todo sentido. O resto se desvanecia rapidamente.

Continuei conferindo tudo como um scanner. Toquei em cada objeto, chequei-os, tomei posse, tornei-os meus novamente. Sentei na poltrona, na cama, na cadeira... repeti o roteiro intercalando um abrir e fechar de armário, de caixa, experimentando um colar, um chapéu, um grampo. Estava agora em um segundo momento. Ao contrário do primeiro, no qual pareceu-me ter estado ainda ontem aqui, agora houve como que um “estiramento” em minha percepção de tempo. Entendi que não foi “ontem” mas talvez “semana passada” que nos perdemos um do outro. Aos poucos, bem aos poucos fui me situando.

Agora eu sabia com a certeza dos fanáticos que tudo seria revelado, entendido, desvendado. Era esperar. Agora era mais que certo que o tempo só começou a contar porque distanciei-me dali.

Parecia como se eu mal tivesse acabado de chorar a minha dor; como se a última gota do luto há pouco tivesse escoado e só agora eu conseguisse pensar um pouco. O tempo é uma ficção.

Sentei em nossa cama novamente e alisei a colcha. Mirei-a como se fosse nova e a tivesse acabado de ajeitar. Quanto tempo se passou? Não sei, mas acabou-se a saudade. Ninguém tem saudade por tão pouco tempo, por um virar de rosto.

É como o sol no seu ocaso, que muda as tonalidades todas do céu e de tudo o mais que seus raios alcançam. Eu estava sob uma influência semelhante. Agora nascia em mim uma coisa nova em lugar do luto. Era uma expectativa, uma ansiedade talvez. Quase uma alegria. Sim, era uma alegria!

Os lençóis, os vinis, a jaqueta de couro, o sabonete, aquele resto de loção, o travesseiro, as almofadas, as miniatura de carros, o violão, tudo isso sorria como se não suportassem mais guardar o segredo. Manuseei todos eles tentando entender.

Meu Deus, em que momento demente cheguei a acreditar que havia deixado de ser jovem? Que pesadelo foi esse do tempo, da morte, do soterramento, do desencontro, da guerra, do desabamento do nosso mundo? O que aconteceu comigo? Estive louca por todo esse tempo? Houve mesmo “todo esse tempo”?

(Terceira parte...)

O QUARTO MÁGICO - primeira parte


Não contei a ninguém sobre aquilo. Algumas coisas precisam dormir em relicários. Difícil explicar.

Olho o passado. Agora parece-me estranho que eu não lhe tenha tomado as mãos em sua despedida. Nem ao menos juntei-me à multidão que velava à sua janela. Nenhum deles sabia exatamente o tom de sua voz quando reverberava entre meus cabelos ou o jeito que suspirava quando me abraçava sem saber o que dizer. Não fui porque não me senti um deles.

Era eu sua realidade paralela, o lado de dentro. Éramos um para o outro o que a vida tem de mãe, de acolhedora. Aquela parte que prescinde do sol, nascida na escuridão e que ali mesmo conhece o seu lugar.

Por que dizer isso agora? Porque hoje é meu dia especial.

Ontem, depois de décadas, voltei ao “quarto mágico”. Era assim que o chamávamos. Hoje é um lugar embrulhado em muitas camadas de “papel de seda do tempo”. Quase um casulo. Algumas vezes parecia-me enorme, mas em outras, pequeno e aconchegante.

Depois de sua morte pensei que não valeria mais a pena retornar. Anos sem sentido fizeram-me mudar de idéia somados a falsos romances, saudades incuráveis, doenças, o teimoso esvair-se dos dias mais os últimos acontecimentos políticos.

Semana passada acordei inquieta sem conseguir me livrar de um sentimento incômodo; uma inquietude, um sentimento de urgência que custei a entender.

Eu precisava voltar o mais rápido possível.

Não me organizei. Fiz o mínimo e não me despedi de ninguém. Sou supersticiosa com planejamentos detalhados, tenho horror a eles. Acho que existem para que nada dê certo. Funcionam como pistas para os demônios que nos espreitam. Então fiz tudo como quem foge, como quem não pode errar.

Não foi um ato de loucura. Agora vejo que loucura fora passar tantos anos numa vida que não era a minha.

(Segunda parte...)
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