Por que não escrevo um romance - Parte II


...Onde arranjar um homem bonito? Claro que não seria em qualquer lugar perebento. Os bonitões se aglomeram em locais bem específicos...

Feira? Nem pensar! Igualmente pontos de ônibus, fila de SUS, ponto de taxi, presídio. Campo de futebol? Talvez. Igreja? Tá doida, mulher?! Boate? Talvez, mas não queria sofrer represálias das acompanhantes. A vítima deveria ser procurada em locais onde não se constuma ir com acompanhantes. Congressos, encontros de negócios, academias, barzinho. Barzinho não, porque iriam confundi-la com prostituta e ela é mulher pra casar, viu. Universidade? Pode ser... mas a média de idade por lá não era muito animadora. Iriam acabar chamando-a de coroa tarada. Não que fosse coroa e não que não fosse tarada. É que para a garotada de 19 anos, mais de 30 é coroa e não tem apelação.

E o tempo passando... Decidiu então atacar em um setor da cidade repleto de hotéis. Centro, claro, porque em praia o cara vai com a família, baldinho, mulher mal humorada e ar cansado. Na praia o cara senta e espera, resignado, que as crianças cansem. Não, praia é muito deprê.

Ela não costumava andar pelo Centro no sábado pela manhã. Aliás, não costumava andar de forma alguma, menos ainda no sábado. Mas estava valendo a pena. A movimentação da rua, por si só, já era estimulante. Ofertas impensáveis, água de coco, pessoas fazendo compras, propagandas, música animada tocando em algum lugar... casal de namorados escolhendo livros, taxistas em grupo esperando os clientes, vendedor de picolé... Decididamente sábado na rua é bem mais divertido que sábado na cama, com preguiça. Aqui fora tem cor, tem suor, tem vida, barulho, pessoas com pressa e pessoas sem pressa formando uma curiosa harmonia com prédios imóveis e árvores inquietas com o vento. Fazia tempo que ela não olhava o mundo assim, como uma pintura que se mexe, como uma foto profissional ainda em formação sendo gestada durante o dia e finalmente revelada durante as lembranças da noite. Alguém jogou papéis picados de alguma janelinha lá em cima. É errado mas é bonito. Obrigada pela homenagem!

Sinal fechou, atravessou a rua olhando para cima, puxaram a bolsa, tentou reagir, meteu o pé em um buraco, caiu, bateu a cabeça...

(Continua...rá. Continuará.! Aceito sugestões.)
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